segunda-feira, 19 de julho de 2010

Dó Maior

A música é algo maravilhoso, nos leva a tantos lugares e nos desperta sensações. Claro que existem vários tipos de melodias. Cada uma com sua energia. Por ora densa ou mais suave. E somos nós os “Djs” de nossa vida. Escolhemos a trilha sonora que vai tocar em nossos momentos.

Há situações em que vivemos numa sintonia com músicas alegres, outras vezes tristes. Dependendo do momento, a melodia vai se fazendo de acordo com as nossas escolhas.

Considero normal a mudança da melodia, mas infelizmente há quem não consiga mudá-la, e a vida vai se tornando vazia dando espaço para o tédio e o desanimo invadir a vida. De forma avassaladora o que era melodia se transforma em melancolia.

Em certos momentos encontramos pessoas que são invadidas por uma melodia enlouquecedora, e por escolhas erradas perdem o senso da realidade.

Uma orquestra precisa de ser regida adequadamente para uma harmonia melódica. Temos que ser o maestro dos nossos instrumentos, para que nossa vida flua de forma adequada em cada situação.

Tudo isto me ocorre para falar da dor do corpo e da alma. Num momento de surto, de uma loucura, nos vemos diante de um amigo que se transforma e perdido, inconsciente, fora de sua razão agride. Como se de uma hora para outra quem ele amasse fosse um estranho, um agressor, um inimigo a quem todo o ódio fosse sentido.

Voltando a analogia musical, isto seria: DOR MAIOR ou DÓ MAIOR? E nós, devemos sentir o mesmo ódio ou ter compaixão por este amigo?

Temos que ter consciência da verdade e alimentar a capacidade de amá-lo ainda mais neste súbito momento de loucura. Ao mesmo tempo não podemos perder a lucidez, pois há risco de em uma crise poder nos machucar. Temos que nós proteger e proteger ele próprio. É ter a humildade de pedir ajuda a quem mais estiver perto para contê-lo ou tentar esconder o que está escancarado?

Cada um tem as suas respostas, mas o que sei é que a dor física não é nada diante da dor da alma. A sensação de anestesia toma conta do nosso ser e a dor no corpo se torna imperceptível, é porque no momento do surto de um ente querido, apesar de tudo, a melodia do amor está presente.

O surto costuma ser passageiro e existe a medicação, que traz o nosso ente querido de volta pra realidade, mas esta cegueira da ignorância e da insensibilidade parece não ter cura. Nesta hora tudo que temos a fazer é entregar para o Senhor do Tempo. Só através dele podemos ter a esperança que um dia este ser seja despertado deste estado de inacessibilidade.

A dor da alma é aquela que fere sem tocar. Esta sim provoca dor maior. É um desentender que não se entende. Por mais que você sinta e mostre a sua ferida ninguém vê, por mais que você diga o que sente, te tratam como insensível. Você fala e não te ouvem. É como se alguém matasse uma parte sua que você quer viva, e que seja vista, acariciada e respeitada. Mas diante de tanta cegueira , assim como no surto de loucura de um ente querido, o que precisamos fazer é nos proteger, nos afastar. É sentir dentro do nosso ser que mesmo que seja um elo significativo precisamos romper pra aplacar a nossa dor. Romper até mesmo para preservar o outro e também nos preservar.

Mas é na hora do surto que as cartas são dadas. É aí que a nossa orquestra entra em ação e tem que afinar-se ainda muito mais para conseguirmos aplacar a insanidade temporária, que se fez presente neste ser. Aplacar engloba conter, buscar ajuda de outras pessoas, medicar e até se afastar. Depende do contexto, cada ação dever ser tomada. Mas tudo deve ser tão rápido, que trocar a melodia no meio da música e saber manter o passo não é uma tarefa fácil. Perder o “rebolado” temporariamente é natural, mas é fundamental saber conduzir esta nova situação que se instalou.

O amor não anestesia e sentimos muito por esta pessoa, que passa por um momento crítico com seus instrumentos desafinados e se torna um perigo.

Para ter esta capacidade é preciso afinar nossos instrumentos diariamente para entender que uma nova melodia pode invadir nossa frequência. Adaptar nossos passos, mesmo que por instantes, ficamos sem ação. Diante do impacto podemos causar e escolher o melhor passo naquele momento, mesmo que a trilha sonora tenha mudado bruscamente mediante de um imprevisto é preciso estar afinado nesta outra sintonia.

Vamos agora pensar onde está o Dó Maior

1- É Dó Maior da pessoa que teve o surto temporário ?

2- É Dó Maior daquele que te apunhala com palavras e atitudes e nem se dá conta disto?

3- É Dó Maior de si próprio por correr risco com o surto do ente querido?

4- É Dó maior de si por não conseguirem entenderem os seus anseios de sua alma?

Como vamos ajustar a nossa orquestra para continuar tocando a vida e saber direcionar nossos passos?

Vamos fazer escolhas com boas composições, com melodias mais felizes apesar de vivermos dores. Já disse o poeta, a dor existe, mas o sofrimento é opcional. Então saiba fazer as escolhas e que as dores sejam transformadas em apenas notas musicais.

Um DÓ MAIOR na sua canção da Vida


Sílvia Lux

Um comentário:

Edvaldo Santos disse...

Sinceramente não sei qual o Dó Maior desta melodia. Mas acredito que uma partitura poderá nos ajudar a compreendê-la melhor...

http://www.edvaldosantos.com.br/blog/?p=1081

Comonão há como criar link neste espaço, este endereço acima é o da partitura